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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

"Chavez apresenta sintomas de delírio ideológico", diz Antonio Ledezma, prefeito de Caracas

Entrevista realizada pelo Jornal El País com o social-democrata Antonio Ledezma, que ganhou em 2008 a prefeitura da Grande Caracas com 53% dos votos, sendo que pouco depois Hugo Chávez o despojou, por decreto, de suas prerrogativas e de sua sede, que passaram para uma funcionária designada pelo presidente da Venezuela.


El País: Passaram-se seis meses da lei que o privou de suas competências. Como se dá com a "chefe de governo" nomeada por Chávez?
Antonio Ledezma: Não há relação, porque é um setor intolerante que segue a pauta do presidente. Quando ganhei as eleições, disse a Chávez que apesar de nossas diferenças tínhamos de trabalhar juntos por Caracas. Em resposta, ele violou a Constituição, designando uma funcionária de fato, tirando-me 90% do orçamento e a tutela de escolas, hospitais e até dos bombeiros, que agora são "bombeiros socialistas". Tudo foi recentralizado. É a política cavernícola.


El País: Como pode funcionar sem orçamento?
Ledezma: Substituindo-o com imaginação e criatividade. E invertendo os termos: Chávez sai da Venezuela para presentear o petróleo e o dinheiro venezuelanos, e eu saio para buscar apoio para desenvolver o plano estratégico de Caracas. Não necessariamente econômico; há outras fórmulas, como a capacitação de funcionários.


El País: É preciso uma greve de fome, como a que o senhor fez em julho, para que a Organização de Estados Americanos (OEA) se interesse pela Venezuela?
Ledezma: Eu disse a José Miguel Insulza (secretário-geral da OEA) que deve intervir na Venezuela porque está sendo violada a Carta Democrática Interamericana. Insulza tem de escolher entre defender seu cargo e defender a democracia. Esse é seu dilema.


El País: O senhor acredita que ele busca o apoio de Chávez para sua reeleição, como dizem seus críticos?
Ledezma: É muito legítimo que tenha sua aspiração, mas não é ético que o faça esquecendo sua missão, que é fazer cumprir a Carta Interamericana. Chávez não permite a entrada da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que depende da OEA, e o senhor Insulza diz que não pode fazer mais porque é necessária essa autorização. É como se um policial cometesse um abuso e não fosse investigado porque não dava sua autorização. É isso que está acontecendo com a OEA. Eu sou tão legítimo quanto Zelaya, presidente de Honduras. Não há um tratamento equilibrado.


El País: Qual a sua opinião sobre a atitude do governo espanhol?
Ledezma: Uma coisa são os negócios que um governo faz, que são legítimos, e outra que um ministro das Relações Exteriores se limite a ser um agente comercial. O que eu peço ao governo da Espanha é que anteponha o interesse pelos direitos humanos a qualquer interesse comercial. Zapatero deveria se sentir mais perto dos que defendemos a liberdade e o estado de direito do que de um Chávez, que por exemplo tem vínculos com o terrorismo internacional.


El País: O que o senhor pensou quando o ministro [das Relações Exteriores da Espanha, Miguel Ángel] Moratinos declarou que a Venezuela tinha uma liberdade de expressão razoável, no mesmo dia em que Chávez fechou 34 emissoras?
Ledezma: Poderia prestar-se a ser qualificada de cínica, ou uma demonstração de desconhecimento de uma realidade que não é ocultada de ninguém. Não é só o fechamento das rádios: até o fechamento da Rádio Caracas TV e a perseguição a jornalistas. Há vários presos e outros no exílio.


El País: Hoje o senhor se reuniu com Felipe González. Com que objetivo?
Ledezma: Pedir-lhe que defenda a liberdade dos presos políticos na Venezuela, como o dirigente social-democrata Richard Blanco, que está preso ilegalmente. Estão presos o empresário Eligio Cedeño e jornalistas, funcionários públicos, militares... Nós vemos Felipe como um porta-voz da democracia ibero-americana. Eu o senti mais comprometido que nunca com a defesa dos direitos humanos e disposto a ajudar inclusive a falar com Hugo Chávez.


El País: Para onde vai Chávez?
Ledezma: Não tem rumo. Apresenta sintomas de delírios ideológicos. Por isso um dia é devoto de Fidel Castro e no outro de Mao. Às vezes elogia Pinochet e às vezes Hitler. O que ele pretende é se entronizar no poder.


El País: Passaram-se seis meses da lei que o privou de suas competências. Como se dá com a "chefe de governo" nomeada por Chávez?
Antonio Ledezma: Não há relação, porque é um setor intolerante que segue a pauta do presidente. Quando ganhei as eleições, disse a Chávez que apesar de nossas diferenças tínhamos de trabalhar juntos por Caracas. Em resposta, ele violou a Constituição, designando uma funcionária de fato, tirando-me 90% do orçamento e a tutela de escolas, hospitais e até dos bombeiros, que agora são "bombeiros socialistas". Tudo foi recentralizado. É a política cavernícola.


El País: Como pode funcionar sem orçamento?
Ledezma: Substituindo-o com imaginação e criatividade. E invertendo os termos: Chávez sai da Venezuela para presentear o petróleo e o dinheiro venezuelanos, e eu saio para buscar apoio para desenvolver o plano estratégico de Caracas. Não necessariamente econômico; há outras fórmulas, como a capacitação de funcionários.


El País: É preciso uma greve de fome, como a que o senhor fez em julho, para que a Organização de Estados Americanos (OEA) se interesse pela Venezuela?
Ledezma: Eu disse a José Miguel Insulza (secretário-geral da OEA) que deve intervir na Venezuela porque está sendo violada a Carta Democrática Interamericana. Insulza tem de escolher entre defender seu cargo e defender a democracia. Esse é seu dilema.


El País: O senhor acredita que ele busca o apoio de Chávez para sua reeleição, como dizem seus críticos?
Ledezma: É muito legítimo que tenha sua aspiração, mas não é ético que o faça esquecendo sua missão, que é fazer cumprir a Carta Interamericana. Chávez não permite a entrada da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que depende da OEA, e o senhor Insulza diz que não pode fazer mais porque é necessária essa autorização. É como se um policial cometesse um abuso e não fosse investigado porque não dava sua autorização. É isso que está acontecendo com a OEA. Eu sou tão legítimo quanto Zelaya, presidente de Honduras. Não há um tratamento equilibrado.


El País: Qual a sua opinião sobre a atitude do governo espanhol?
Ledezma: Uma coisa são os negócios que um governo faz, que são legítimos, e outra que um ministro das Relações Exteriores se limite a ser um agente comercial. O que eu peço ao governo da Espanha é que anteponha o interesse pelos direitos humanos a qualquer interesse comercial. Zapatero deveria se sentir mais perto dos que defendemos a liberdade e o estado de direito do que de um Chávez, que por exemplo tem vínculos com o terrorismo internacional.


El País: O que o senhor pensou quando o ministro [das Relações Exteriores da Espanha, Miguel Ángel] Moratinos declarou que a Venezuela tinha uma liberdade de expressão razoável, no mesmo dia em que Chávez fechou 34 emissoras?
Ledezma: Poderia prestar-se a ser qualificada de cínica, ou uma demonstração de desconhecimento de uma realidade que não é ocultada de ninguém. Não é só o fechamento das rádios: até o fechamento da Rádio Caracas TV e a perseguição a jornalistas. Há vários presos e outros no exílio.


El País: Hoje o senhor se reuniu com Felipe González. Com que objetivo?
Ledezma: Pedir-lhe que defenda a liberdade dos presos políticos na Venezuela, como o dirigente social-democrata Richard Blanco, que está preso ilegalmente. Estão presos o empresário Eligio Cedeño e jornalistas, funcionários públicos, militares... Nós vemos Felipe como um porta-voz da democracia ibero-americana. Eu o senti mais comprometido que nunca com a defesa dos direitos humanos e disposto a ajudar inclusive a falar com Hugo Chávez.


El País: Para onde vai Chávez?
Ledezma: Não tem rumo. Apresenta sintomas de delírios ideológicos. Por isso um dia é devoto de Fidel Castro e no outro de Mao. Às vezes elogia Pinochet e às vezes Hitler. O que ele pretende é se entronizar no poder.



Maite Rico em Madri - Espanha
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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