O recado a ser dado será claro: para o Brasil e outros vizinhos, como a Argentina, se a Colômbia não der respaldo jurídico à promessa de que a presença de tropas americanas em até sete bases no país se restringirá ao território colombiano, poderá ficar isolada, com uma permanente desconfiança pairando no ar.
O Brasil será representado pelos ministros Celso Amorim (Relações Exteriores) e Nelson Jobim (Defesa). Jobim já esteve no início do mês na Colômbia e no Equador, tentando fazer uma mediação entre esses dois países. Eles estão com as relação diplomáticas suspensas desde o ano passado, após Bogotá realizar uma operação contra as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em território equatoriano.
Além disso, Jobim ainda irá amanhã à Bolívia, que integra o eixo antiamericano da região com Venezuela e Equador.
A Colômbia, que está "na berlinda", por causa do acordo com os EUA, exige que os ministros discutam também as alianças da Venezuela com o Irã e com a Rússia e as suspeitas de envolvimento de outros países (numa referência à própria Venezuela e ao Equador) com grupos narcotraficantes.
Até anteontem, havia ao menos três propostas circulando entre as chancelarias. Elas serão levadas à reunião de terça.
Duas são de autoria equatoriana. Elas estipulam a instituição de uma espécie de "código de conduta" relativo a gastos militares e a instalação de uma comissão com a incumbência de fomentar relações de confiança entre os 12 países da Unasul, planejando troca de visitas e de informações na área da defesa.
Transparência
A outra proposta é do Brasil e vai na linha de mais transparência, com a criação de um dispositivo que formalizaria a obrigatoriedade de os países da Unasul notificarem seus acordos de cooperação militar, sobretudo dos que envolvam grau de presença ou equipamento estrangeiro. Assim, seria criado uma espécie de "catálogo".
A ideia, chamada de "projeto transparência", seria colocada na cúpula de presidentes em Bariloche, Argentina, no final de agosto. Mas a reunião foi consumida pela retórica.
Para dar "exemplo", o governo brasileiro diz estar disposto a dar explicações sobre os acordos recentemente firmados com a França para aquisição de helicópteros, submarinos convencionais e a construção de um submarino de propulsão nuclear, além da disposição de empregar até 4 bilhões na aquisição de 36 aviões de caça para a FAB.
Se questionado, o Brasil dirá, segundo fontes diplomáticas, que essas ações são "perfeitamente proporcionais às necessidades de defesa e de segurança que o país tem".
Também defenderá que não há necessidade de manter isso sob sigilo -um diplomata inclusive citou a possibilidade de colocar na internet os acordos assinados com a França, seguindo o exemplo do Chile, que é o único país que escancara sua força bélica pela rede.
Recentemente, a Venezuela comprou fuzis, tanques, helicópteros e três submarinos da Rússia. Na última quinta-feira, em Moscou, o presidente Hugo Chávez e seu par russo, Dmitri Medvedev, selaram acordo para o fornecimento de mais tanques a Caracas.
Outros países latino-americanos também foram às compras. O Chile adquiriu fragatas e outros equipamentos do Reino Unido e da Holanda. O Equador comprou aviões Supertucano do Brasil, helicópteros militares da Índia e fragatas do Chile. E o Peru tem um plano de reequipamento de até US$ 650 milhões.
Para o Brasil, tais movimentações justificam a necessidade de mais troca de informação na região, com o intuito de evitar curtos-circuitos capazes de estimular uma corrida armamentista entre vizinhos.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1309200906.htm
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